Na linha do horizonte…além do corpo

 


Valéria Pinheiro, coreógrafa, sapateadora e fundadora da Cia. Vatá.
Esse espetáculoum musical, coloca o povo de Horizonte em contato com parte do mapa que compõe sua Identidade.
Viemos de um ano de pesquisas sobre esse universo, onde os bailarinos, através de um mergulho acadêmico entraram em contato com uma linha filosófica e antropológica do conceito “Identidade”. Passeamos por conceitos de Leonardo Boff, Spinoza, Deleuzze… E formulamos desse entendimento, como nos foi possível entender esse universo, nosso próprio conceito de Identidade.

Nossos anseios por entender qual o comportamento do povo de Horizonte diante do mundo contemporâneo, nos levou a um mergulho nos fazeres e dia a dia desse povo, uma vez que na pesquisa anterior já havíamos entrado em contato com as raízes desse lugar (De Olho D´água a Horizonte). Precisávamos agora entender nosso papel nesse mundo, digamos assim: computadorizado e veloz, que parece nos empurrar pra uma globalização que talvez não nos sintamos ainda prontos pra entrar, ou será se já estamos prontos?

Quem somos nós afinal, povo de Horizonte?

Entendemos ser Horizonte uma cidade que vive da Indústria e essas estão sedimentadas numa atual e contemporânea tecnologia de ponta.

Quisemos pesquisar de perto essa relação: Horizonte, cidade industrial, com seu povo, que mesmo a alguns minutos de Fortaleza, uma quase metrópole, ainda se vê fora do eixo contemporâneo da informação. Que paradoxo pensamos nós: um “corpo sujeito” que lida com o mais contemporâneo e atual das máquinas:Tecnologia de ponta, mas não conhece muito, ou quase nada, desse universo. Um turbilhão de perguntas começou a povoar essas mentes crianças, e fomos em busca das respostas…

Invadimos as Indústrias de Horizonte, da fábrica de carro a refrigerante, passamos a ser espectadores do fazer braçal desse “povo” que trabalha e compões a população ativamente viva e trabalhadora de Horizonte.

Fomos ver de perto esse “corpo” que nos parecia ter respostas.

Qual surpresa!  Formulamos ainda mais perguntas:

Será esse “corpo” robotizado?   Como um “corpo” que trabalha 8 horas seguidas em trabalho repetitivo se comporta diante das transformações trazidas pela repetição? Como esse corpo, muitos deles mãe de família reage as preocupações trazidas pelos filhos que ficaram em casa , talvez sozinhos?  Que influência sofre esse “corpo” diante dessa tecnologia de ponta? Até onde é entendível esse fazer além do corpo que aprendeu lidar com “botões” de máquinas? Estaria além do “corpo”?

Que Identidade esse “corpo” assume diante desse espaço território chamado Horizonte?

Resolvemos mergulhar na possibilidade de vivermos em nossos “corpos” a repetição do trabalho em linha, que observamos nas fábricas. Entramos em estúdio e trabalhamos por alguns meses a possibilidade do movimento repetitivo. Começamos aqui a desenhar uma cartografia de movimentos que nos serviria mais tarde pra composição coreográfica propriamente dita.

Mas nos restou, depois dessa pesquisa ainda um turbilhão de perguntas: como se comporta, a mente, alma e espírito desse “corpo” que passa horas a fio a repetir-se em movimentos quase coreografado e bem sincronizados?

Voltamos às fábricas, e dessa vez observamos, não só o movimento, mas o comportamento desses trabalhadores junto aos seus colegas. Observamos que por alguns momentos, nós espectadores, pudemos ver um “corpo” trabalhando e uma mente “vagando, navegando”, num outro tempo.

Descobrimos aqui o que chamamos carinhosamente de “tempo delicado”, onde o movimento repetitivo parecia fazer o corpo físico se movimentar, mas o “tempo delicado” dos pensamentos nos remetia diretamente pra pacata cidade de Horizonte.

Esse musical que apresentamos é uma síntese de nosso entendimento desse “corpo horizontino”, ágil, esperto e mesmo repetitivo quando no trabalho nas fábricas, trabalho esse que imprime nesse corpo um perfil robótico, mas com tudo, um corpo feliz!

Um corpo que consegue dirigir uma máquina da mais atual tecnologia de ponta, mas que ainda não sabe sequer navegar na Internet, embora quando do tempo trabalho, faz sua mente, espírito e alma “navegarem” pra outro território, os territórios pacatos, simples e felizes de Horizonte!

Como falar dessa “Identidade”?

Começamos a falar de nós mesmos, filhos desses homens que lidam no seu dia a dia com máquinas e no findar do dia atravessam esse “tempo delicado” horizontino ao lado de sua família.

Quem sou eu nesse mapa de fazeres de horizonte? Que papel eu desempenho? Que influências eu recebo ou sofro de outros lugares?

E buscamos no “corpo” entender de perto essa Identidade!

Escolhemos como trilha musical pra esse nosso mergulho na Identidade Horizontina, uma musica que pudesse ampliar o nosso acervo musical e nos colocasse frente a frente com um desafio e quem sabe achar na música de Oscar Peterson, Bob Macferrin, Villa Lobos e Marcos Suzano um território fértil pra nos fazer entender esse “tempo delicado”, que acreditamos seja nossa morada e parte do território que compõe nosso mapa de Identidade!

 

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