Eliana Caminada
7 h · Rio de Janeiro ·
Amigos, ontem atendi à convocação do Sindicato da Dança, presidido pelo meu querido companheiro Caio Nunes, com a intenção de conhecer melhor o texto do Projeto de Lei para a Dança e contribuir com sugestões que pudessem aperfeiçoá-la. Estava bastante entusiasmada mas a primeira frase que ouvi, logo ao chegar foi: Essa lei não aborda o ensino da dança.
Como assim? Se uma PL vem para regularizar a situação da dança, faz exigências de formação e propõe um quadro imenso de competências, está-se falando de ensino, sim. Até porque, se é para tratar apenas de questões trabalhistas a lei anterior é ótima e a ela bastavam acréscimos.
Bem, eu não deveria esperar muito de legisladores que, em nome do oba oba e da demagogia barata usam o nome de Daniela Mercury como referência da dança. Para nós, artistas da dança, referência em dança é Ana Botafogo, Cecília Kerche, Carlinhos de Jesus, Jaime Arôcha, Marli Tavares, Jarbas Homem de Mello, para falar apenas nos que estão na mídia.
Discutir a lei, ítem por ítem, e abrir para sugestões sobre as 200.000 competências que encontraram para um profissional da dança, foi exatamente o que não aconteceu. Houve sim, depoimentos filosóficos com clara intenção política, queixas sobre a situação deste ou daquele segmento de dança, enfim, o de sempre, tudo o que afasta o verdadeiro profissional da dança, perfeito para aqueles que se metem na dança e passam a pontificar por pura habilidade política. E para depois debochar claramente do que estamos expondo. Uma Lei sobre Arte precisa ser elaborada com a contribuição de Artistas, não de burocratas. A burocracia, os próprios parlamentares orientam e se incumbem de formatar.
Na 6a feira passada eu assisti a um ensaio de danças urbanas com Thiago Soares e Danilo d’Alma, coreografados por Renato Cruz. Amei aquela dança que tem força, que se expressa através do movimento, não das palavras. Aliás, do jeito que aquela lei está elaborada, brevemente o coreógrafo será dispensável, substituído pelos diretores de 200 coisas diferentes que serão competência da dança. Qual!!! Isso é Brasil.
Paro por aqui. Ainda teria muito a dizer a companheiros de jornada em dança. Mas tentar encetar uma conversa com advogados que nada entendem de arte…Ah, concluí.
Archive for julho \07\+00:00 2016
O novo Projeto de Lei da Dança é um engodo.
julho 7, 2016Ana Botafogo, você nos representa.
julho 7, 201626 de junho às 19:04 · Rio de Janeiro ·
Amigos, já comentei que começo meu domingo assistindo na TV Cultura ao Samba na Gamboa, seguido do Prelúdio, programa de música clássica. De 15 em 15 dias conhecemos os candidatos do Jovens Talentos, concurso para talentosíssimos instrumentistas em início de carrreira.
Hoje, para minha surpresa, Ana Botafogo compôs a mesa de jurados. Ao vê-la anunciada pelo Maestro Julio Medaglia fiquei surpresa e orgulhosa. Isso é uma legítima representante do posto de Primeira-Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Comentando com desenvoltura e bom senso ela mostra o que muitos bailarinos não lembram, não ligam, não dão importância, ignoram, desdenham: quem representa ou pretende representar uma categoria profissional, sobretudo artística, precisa ter cultura geral. O representante do ballet não deve ser um diretor estrangeiro ou o presidente do teatro, mas suas figuras principais. É preciso conhecer seu metièr profundamente, mas também tem que ser capaz de se sensibilizar e se envolver com outras artes. Não há nada mais constrangedor do que um bailarino que não sabe se expressar, que não conhece nada além de piruetas e développés; tudo o que ouve de música erudita é compositor de ballet (em geral, acham Minkus uma maravilha); nunca ouviu falar de grandes artistas plásticos e cenógrafos que criaram especialmente para ballet.
Decididamente, a época do “bailarino não fala, dança” acabou. No mundo atual, dominado pelo universo acadêmico, é fundamental ler, conversar com pessoas capazes de transmitir algum saber a mais, seja de vivência artística, seja de saber formal, literário, acadêmico.
ANA BOTAFOGO, PARABÉNS, VOCÊ SE PREPAROU MUITO BEM PARA SER QUEM VOCÊ É. VOCÊ NOS REPRESENTA!!!
Ana Botafogo e Cecília Kerche: duas grandes mulheres da Dança
julho 7, 2016Eliana Caminada
26 de junho às 23:08 · Rio de Janeiro
Hoje quero dizer algumas palavras sobre duas grandes mulheres: Ana Botafogo e Cecília Kerche.
Ana e Cecília são bailarinas diferentes, personalidades diferentes, mas estão unidas pelo respeito mútuo, pelo imenso amor à dança e à companhia a qual pertencem e dirigem, pela lição de ética e cidadania que transcende o artista e envolve a própria cidadania no amor ao seu ofício. Sim, cidadania na construção de suas lindas carreiras e no exemplo que dão a todas as gerações de devoção à dança.
Nós as conhecíamos como performers, como mensageiras do ballet como uma arte eterna, mas agora temos que lhes agradecer pelo lado administrativo, gerencial de uma companhia de ballet.
Com mais esta magnífica temporada elas revelam o quanto de preparo possuem para estar à frente da mais importante companhia de ballet de repertório do Brasil. Nada lhes falta, exceto dinheiro, mas competência supera tudo e isso ambas têm de sobra.
Parabéns pela condução de um Lago dos Cisnes integralmente remontado, ensaiado e estrelado com brasileiros, incluindo aí Gisele Santoro, pela superação dos inúmeros problemas que enfrentam, alguns absolutamente desnecessários, pela capacidade de conceder o título de primeiros-bailarinos aos que já o eram, de fato, mas não de direito, pela ousadia de pinçar e apresentar como primeira-bailarina uma moça que entrou outro dia na companhia.
Pensei que é preciso coragem, uma coragem que muitas vezes faltou a nossos diretores, mas acho que é mais do que coragem, é olho clínico, é bagagem, é experiência, é fé na nossa capacidade de sempre ressugir de crises e falta de verbas. Vocês mostram que é possível sim, trabalhar, desde que se queira, desde que por amor, sem patrocínios milionários para apresentar apenas um evento. Até porque, ballet no Theatro Municipal do Rio de Janeiro nunca será simples evento.
Ana Botafogo, Cecília Kerche, há muito tempo eu queria lhes agradecer. Muito obrigada
- Ana Botafogo
- Cecília Kerche