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Para meu marido Eric

maio 21, 2019

Meu bem, está fazendo um ano que você se foi. É duro, mas estou em paz. Tenho, de você, as lembranças mais lindas, tenho nosso filho e nossos pequerruchos Luiza e Lucas. A cada dia, em vários momentos, me flagro conversando com você. 
Como você me ensinou a viver. Como foi generoso, educado. Como teve caráter, bondade, seriedade quando era preciso. Como foi bom para minha família inteira; como me preparou para enfrentar a vida sem você. 
Eric, você morreu como viveu, amando o belo e, sobretudo, amando o próximo, o requintado e o muito simples; em relação a tudo: gente, música, arte, lugar… Quanto mais envelhecia, mais humano se tornava. Como você respeitou a dignidade de gente pobre, como distribuiu amor e como recebeu amor. 
Meu bem, você foi uma bênção para os que conviveram com você, uma bênção na minha vida, meu amor, meu companheiro, meu professor de tudo, um misto de marido, amante e pai. 
E uma coisa que nunca falei explicitamente: como você teve talento, como a arte gostava de você. Teve talento para tudo: para dançar, embora nunca tivesse conseguido ter técnica, mas a dança sabia, conhecia o seu talento como professor, como remontador, ensaiador, até como o coreógrafo que você não se permitiu ser; com sua auto-crítica aguda dizia: não tenho cultura suficiente para ser um coreógrafo, eu faço coreografia, é diferente, mas não sou um criador; como você tinha talento para desenhar, para criar figurinos; como tinha talento para piano, para música, com seu ouvido tão apurado, que Roberto herdou e nossos netos, também. 
Meu Eric, está é, sim, minha declaração de amor a você, onde quer que você esteja. Te amo!

Eric Valdo

ELEONORA OLIOSI – UMA MESTRA

maio 8, 2019

Eleonora Oliosi – Uma Mestra
Um magnífico e raro final de semana para a dança, especialmente, o ballet clássico. 
Assistir Eleonora Oliosi dando uma aula é entender porque ela dançou como dançou. Ela representa a arte em toda a sua capacidade de dar um peteleco na lógica dos cantados e decantados pré-requisitos para o ballet. O que Eleonora tinha era talento e vocação. Por isso o ballet a escolheu. 
Ouvindo suas correções me vi, comovida, retornando ao Theatro no qual dancei. Quem nunca dançou num teatro de grande porte, lírico, não sabe o que é. Nenhum aparelho substituirá uma orquestra; nenhum gravador substituirá um pianista de aula ou ensaiador. A tecnologia tem sua utilidade, não resta dúvida, mas está muito longe de substituir o ser humano, suas falhas, seus grandes momentos, a junção da música e da dança numa única respiração. Aparelhos não respiram. 
Não, Eleonora não estava ali inventando a roda. A roda já foi inventada. Nada de pé flex, frappé assim ou assado, mimimi de aula de ballet de quem espera um milagre que o faça dançar sem grande esforço. Ela falava de dança, de preparações, de musicalidade, de respiração, de ligação de movimentos, de expressão, braços, cabeças. Ela falou de felicidade por estar dançando, falou do tutu; ela falou de amor. E trouxe consigo o mundo do teatro de grande porte, do público, da platéia às galerias, da projeção do bailarino, da exatidão das terminações, mesmo num simples exercício da barra, da unidade de uma companhia que começa a ser trabalhada desde a aula. Ela trouxe o maestro para a aula, dirigia-se a ele como se ali ele estivesse. A pianista acompanhadora – como tudo no ballet, uma especialização – era o maestro; estejamos atentos a ele, dirijamos-nos a ele depois do “espetáculo”. 
Esperamos que os que tiveram a chance, não de executar suas sequências, isso pouco importa, mas de ouvir o que ela tinha a dizer, lembrem de suas palavras e revejam sua imagem mostrando. O que grandes mestres mostram não tem nada a ver com perfeição técnica, físico apurado, perna na cabeça, giros e mais giros. 
Eles trazem VIVÊNCIA, BAGAGEM, COISAS QUE NÃO SE APRENDE EM LIVROS, MUITOS MENOS EM CURSOS DE GRADUAÇÃO. 
Eleonora, muito querida amiga, obrigada por poder ver e aprender com você. Receba meu amor, amizade e eterna admiração.

Eleonora Oliosi