ESCOLA ESTADUAL DE DANÇAS MARIA OLENEWA – 90 ANOS DE TRADIÇÃO
Sob o impacto de justificada emoção a Escola Estadual de Danças Maria Olenewa, antiga Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, completou 90 anos. É a mais antiga instituição oficial do país e razão suficiente para afirmarmos que a alma brasileira do ballet clássico em nosso país é carioca.
Olenewa, mais do que bailarina e pedagoga, foi uma visionária capaz de planejar o presente e o futuro e concretizá-lo. Ao criar a Escola de Danças tinha consciência de que estava lançando a pedra fundamental do desenvolvimento do ballet no Brasil. Seu ideal de criar o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e de preparar bailarinos para integrá-lo foi plenamente alcançado. Hoje, superando o desprezo e o desconhecimento de nossas autoridades sobre ballet, oferecemos ao mundo todo bailarinos brilhantes e reconhecidos. A facilidade para dançar inerente ao povo brasileiro aliada à mistura de raças que o faz entender e conferir um sotaque singular a tudo que lhe é apresentado, transformou o ideal de Olenewa numa indiscutível realidade. Em 1931, a Escola foi oficializada e a companhia dela oriunda em 1936. Seu atual diretor Hélio Bejani, coreógrafo e bailarino da companhia, ficou feliz e realizado ao ver o Theatro superlotado, consagrando a homenagem prestada a bailarinos do Ballet do Municipal de várias gerações, formados pela Escola, e a apresentação dos alunos. Esperamos que tal demonstração de amor e respeito comova o secretário de Cultura, que estava presente. Afinal, naquele palco estavam artistas passando por sérias dificuldades, sem receber seus salários desde o mês de abril.
Nada disso, contudo, maculou a alegria de dividir aquele palco com tantos companheiros queridos, de ouvir Eleonora Oliosi falar sobre a importância da Escola na vida de todos nós que passamos por ela. Foi sim, emocionante. Deu-nos a sensação de dever cumprido, de trajetória percorrida que pode servir de modelo para os jovens que estão começando a construir sua carreira.
Encerrar o espetáculo – dançado com correção pelos alunos – com a remontagem bonita e honesta de “Les Sylphides” foi muito significativo. Esta obra-prima, com música de Chopin, coreografada por Fokine é marcante para nossa história. Constou do primeiro espetáculo levado à cena pela Escola de Danças e do primeiro espetáculo do Corpo de Baile já reconhecido como companhia oficial.
“… considerando a luta dos artistas, sobretudo do bailarino clássico, para sobreviver com dignidade e mais, para ter o direito de optar pelo ballet num país onde a cultura erudita é tão desprestigiada e o ballet não consta de nenhum discurso de “autoridades” da área cultural, firma-se com mais vigor e entusiasmo minha admiração pela figura de Olenewa. Não é difícil imaginar a luta para aqui iniciar uma atividade artística, encontrar vocações que a tudo superassem, das dificuldades materiais ao preconceito cruel, convencer políticos pouco esclarecidos da necessidade de uma atividade permanente e oficial numa instituição do governo com a finalidade de abrigar uma arte de caráter tão universal e sem barreiras, mas tão marginalizada quanto a dança, especialmente o ballet, lançar as bases de um projeto que funcionasse a curto, médio e longo prazos, enfrentar diletantismo, amadorismo e apadrinhamentos, e viver, ela própria, Olenewa, com dificuldades financeiras. Tal deve ter sido a sua batalha e, quando se olha para o presente acredita-se que, apesar de tudo, valeu a pena…”