Message d’une maître de danse brésilienne – traduction Desirée Thompson

dezembro 26, 2018

E

Magnifique message d’une maître de danse brésilienne. 
❤️

« 
Amis et collègues, je tiens à vous rappeler que mes messages ne reflètent que mon opinion et ne sont publiés que sur ma page personnelle. Ils sont publics parce que je n’ai rien à cacher à personne.
Dans l’épilogue de son livre extraordinaire “Les anges d’Apollo – Une histoire de ballet”, Jennifer Homans met le doigt (et l’âme) au même endroit:
“… Pour que le ballet classique reprenne sa place d’art fondamental, il faudrait plus que des ressources et des talents (le” prochain génie “). L’honneur, le décorum, la civilité et le bon goût devraient également revenir. Nous devrons ré-admirer le ballet, non seulement en tant que spectacle sportif impressionnant, mais également en tant qu’ensemble de principes éthiques … “
Beaucoup disent aimer le ballet, mais ils ne le respectent pas quand:
ils ne désirent que le glamour et le succès;
ils retournent au répertoire classique en déformant leurs personnages, en déplaçant les danseurs pseudo-techniques et en les exposant à des difficultés en dehors du style et de la musique, au détriment du ballet et de l’intrigue d’autres personnages, en partie parce qu’ils ne sont pas conscients de l’intrigue profonde de travail, en partie à la recherche d’applaudissements gratuits;

croire que les vidéos remplacent l’expérience vécue dans le travail de réassemblage d’une œuvre de répertoire; vidéos désorientées et trompeuses; les vidéos ne sont utiles que pour ceux qui ont besoin de prendre de petits doutes, de ne pas remplacer un rappel;
quand ils pensent que l’ensemble d’un travail de répertoire n’a été formidable que parce qu’ils l’ont tous fait ensemble, alors que l’essentiel de l’œuvre, son style, sa structure sont aussi éloignés que l’athlète est éloigné de l’artiste;
quand ils substituent de vraies émotions à des clichés qui plaisent au public;
quand ils n’entendent personne, ils ne lisent rien et ne savent rien du bureau qu’ils disent aimer;
quand ils mettent la production au-dessus du sens primordial du spectacle de ballet: la danse.

Eliana Caminada

Rio de Janeiro, 26/12/2018

Sobre Vaganova – Do livro “Os anjos de Apolo – Uma história do ballet”

dezembro 13, 2018

Sobre Vaganova. Do livro “Os anjos de Apolo” de Jennifer Homans.
“…Antes de mais, era uma ciência e (nas palavras de um bailarino) “tecnologia” do ballet. Vaganova tinha uma mente extremamente analítica…Nas suas lições, todos os aspectos de um passo eram desmontados, examinados e depois montados de novo e descritos. A coordenação era fundamental, e Vaganova inventou um método de treino em que a cabeça, mãos, braços e olhos, todos se movimentavam em sincronia com as pernas e os pés. Não adiantava praticar passos complicados na barra com o braço pendurado e sem qualquer expressão ao lado…: sem o braço (cabeça, olhos) o passo atrasava-se. Todas as partes do corpo tinham de funcionar ao mesmo tempo e em estrita harmonia, acompanhando fluidamente a espinha dorsal. Assim, a barra de Vaganova nunca era um conjunto de escalas e exercícios isolados; era uma dança completa – não floreada ou ornamentada, mas simples e precisa…: porquê esperar para pôr todo o corpo em movimento coordenado? Vaganova ensinava os seus alunos a aperfeiçoar os passos enquanto dançavam, eliminando assim a tradicional distinção entre técnica e arte.”
“O resultado era impressionante: Vaganova afinava a coordenação física de forma que até os passos mais difíceis parecessem fáceis, graciosos e sobretudo naturais – não divorciados da vida, mas parte dela…A ideia não era “enxertar” o significado num passo: isso teria sido demasiado rude e ornamentado. Pelo contrário, e como Stanislavsky no teatro, ela pedia aos bailarinos para encontrar ligações profundas e convincentes entre o movimento e a emoção. Não havia passos neutros: todos os movimentos tinham de ser dotados de sentimento…”

SOBRE UM ESPETÁCULO DO CORPO DE BAILE DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO

outubro 9, 2017

Eliana Caminada
9 de outubro de 2015 · Rio de Janeiro ·
Ainda sobre a noite de ontem. Atenção, não sou a dona de nenhuma verdade. Isso é apenas minha opinião, nada mais que isso. Não é uma crítica.
Antes de tudo, parabéns à companhia, ao Theatro, ao ballet do Brasil, por ter na direção da principal casa de espetáculos do Brasil Ana Botafogo e Cecília Kerche. No meio de tanta bandalheira, é um bálsamo na nossa alma.
Ages of Inoccence é um bonito ballet neoclassico. Não é uma grande criação, mas usa muito bem a companhia, e viu desempenhos excelentes do conjunto e de vários solistas. Quando começou (e mesmo lá pelo meio) lembrei-me de Dark Elegies de Antony Tudor, essa sim, uma criação, uma obra-prima. Talvez as reverences em filas, as movimentações dos casais de saias compridas. Só que Dark Elegies é profundamente doloroso e Ages of Inoccense é solar.
A 7a Sinfonia de Beethoven, com sua partitura excepcionalmente bela, é um grande ballet. Fiquei imaginando o prazer da orquestra, que tantas vezes precisa se submeter a tocar Minkus e outros menos votados, num espetáculo como o de ontem. E Uwe Sholz é um baita coreógrafo, inspirado e absurdamente musical. Puxa, como gostaria de ter tido a chance de dançar um corpo de baile como aquele. É um desafio, uma criação. Dificilimo, foi um desafio que a companhia, mais uma vez, milagrosamente, venceu.
Quando vejo o Corpo de Baile dançando sempre me pergunto, que componente subjetivo permite que, com tão poucos espetáculos, a companhia se apresente bem e consiga renovar seus elementos. Tendo a atribuir à tradição que a própria Casa guarda. Uma memória, sei lá.
O que vou falar é delicado para mim, mas convivo com críticas sem maiiores problemas. Bailarinos como Karen Mesquita, Moacyr Emannoel, Cícero Gomes já merecem o título de primeiros-bailarinos. O público já os reconhece e eles se destacam no que interpretam. E são sucessivas temporadas de qualidade indiscutível. Na minha opinião, existe um momento em que essa promoção, se não é conferida, começa a pesar na carreira do bailarino. Se se for esperar o ápice de um artista para dar-lhe reconhecimento, se impedirá, por questões psicológicas, o desabrochar total desse bailarino. Passei por isso, não sou uma pessoa falando do que nunca viveu.
Não quero esquecer de parabenizar Deborah e Raquel Ribeiro, Priscila Mota, Rodrigo Negri, Mônica Barbosa, entre outros que, certamente, estou omitindo sem querer, pela honestidade com que encaram suas carreiras. Estão em todas as temporadas e sempre se apresentam com suas melhores figuras, sempre empenhados e no melhor de suas possibilidades técnicas. Entre outros. E, que lindo ver Chico Timbó dançando, apaixonado pela dança.
No mais, é muito bom sair do Theatro com a sensação de que a companhia sobrevive, e com brilho aos maus administradores, à falta de incentivo político (refiro-me sim, à ausência de autoridades nas temporadas), ao desprezo da mídia, à falta de propaganda. E, pergunta que não cala: Se a casa não está nem meio cheia, por que ficar guardando os ingressos que poderiam, ou melhor, deveriam, ser distribuídos aos seus artistas e funcionários?

TATIANA LESKOVA: PRÊMIO POSITANO

setembro 22, 2017

Eliana Caminada
16 de setembro às 20:17 ·
Já não é difícil dimensionar o papel de Tatiana Leskova, D. Tania, na história do ballet no Brasil e do mundo internacional da Dança.
Na nossa vida, de bailarinos brasileiros, é tão grande essa contribuição que podemos afirmar que com ela aprendemos tudo: amar e respeitar o ballet acima de nossa própria vida pessoal. Nem todos conseguimos ou compreendemos, mas ela nos ensinou e vive esse amor na sua plenitude.
Imaginar o ballet clássico profissional no Brasil sem a presença de D. Tania seria como tentar imaginar os Estados Unidos sem Balanchine. Ela internacionalizou o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro com os grandes coreógrafos e bailarinos que trouxe para trabalhar conosco, dotou o repertório da companhia com um acervo riquíssimo, de indiscutível qualidade universal, formou bailarinos que se destacaram no cenário do ballet no mundo todo. Graças a ela, um ciclo inteiro do Original Ballet Russe foi montado para o Theatro Municipal. Dançamos alguns ballets antes que os russos, de onde vieram a maior parte dos coreógrafos da lendária companhia, o fizessem.
No plano internacional, não fosse ela, a obra de Leonid Massine, de importância histórica, estaria perdida para as gerações que não o conheceram; não fosse ela, estaria na gaveta do esquecimento a obra de um gênio que já foi comparado a Salvatore Vigano, o conceptor do Choreodrama (drama coreográfico), coreógrafo a quem Beethoven dedicara sua composição Criaturas de Prometeu.
Professora, muitas vezes severa como é preciso, foi admirada por nós pela sua honestidade, capacidade de se renovar, se reinventar, se indignar com o que não reconhece como Arte, protestar, participar, se expor. Ela sempre tem um lado, jamais é neutra sobre coisa alguma.
O ballet foi premiado quando, através de Rudolf Nureyev, convidou-a a remontar Leonid Massine na Ópera de Paris e, por consequência, no mundo todo. Agora, concede-lhe o PRÊMIO POSITANO na sua 45ª edição, que nada mais é do que o reconhecimento do seu talento, de sua perseverança, de sua coragem e de seu imenso amor à vida.
Setembro de 2017

ESCOLA ESTADUAL DE DANÇA MARIA OLENEWA

setembro 22, 2017

O coquetel comemorativo dos 90 anos da Escola Estadual de Danças Maria Olenewa, que aconteceu ontem à tarde, propiciou momentos de muita alegria e emoção.

O encontro de professores, alunos, ex-alunos, de todas as gerações, ao lado funcionários, personalidades e companheiros dos corpos artísticos foi marcado pela felicidade dos reencontros.

No lindíssimo Salão Assirius do Theatro Municipal do Rio de Janeiro vivenciamos o sentimento do peso da tradição. Noventa anos não são 90 dias ou 90 meses. Quantas expressões de nossa cultura sobreviveram em nosso país por tanto tempo?

O ballet, como atividade, proporciona muitos fatos que ultrapassam a função de formar um bailarino. Se essa formação envolve uma escola como a Escola de Danças o ballet está preparando para a vida, está conduzindo os estudantes a enfrentar o mundo adulto com uma atitude de respeito e educação que deverá permanecer nas nossas relações humanas e profissionais para sempre.

Instituições como a Escola de Danças nunca mais saem da vida daqueles que por elas passaram. Juntos, parecemos todos adolescentes; individualmente, somos todos soldados disciplinados, pontuais, responsáveis. E sensíveis.

A homenagem a Lydia Costallat, nossa inesquecível diretora, foi linda e ninguém mereceu mais do que ela este reconhecimento. Os deuses da Dança fizeram com que Helio Bejani, atual diretor da Escola, um primeiro-bailarino, um bailarino oriundo da companhia para a qual a Escola foi criada, alguém ligado à Escola por vínculos artísticos, fosse o mentor desta demonstração de apreço.

Podemos afirmar sem medo de errar: Maria Olenewa fundou a Escola, Lydia a manteve viva. Quando fomos despejados, sem grandes ou pequenas explicações, pelo então presidente da Funterj Geraldo Matheus Torloni, do prédio que abrigava a Escola de Danças, a Escola de Canto Lírico e a Orquestra Juvenil, ela transmutou-se em heroína. Recusando-se a aceitar passivamente uma decisão tão burra quanto autoritária, lançou mão dos amigos da dança para manter a Escola de pé. Com a solidariedade de inúmeros estúdios de ballet particulares, designou cada turma para um lugar diferente e, percorrendo o Rio de Janeiro, da zona norte a zona sul, quase que diariamente, conseguiu coordenar as aulas e os exames, e para dar assistência a alunos, professores, pianistas e pais de alunos. Nos dias que lhe sobravam buscava um local que abrigasse a Escola. E encontrou. Foi difícil, no início, mas com a cumplicidade do seu Corpo Docente, Discente e alunos, a Escola foi introduzida em sua nova (um casarão velhíssimo) sede. Com sua luta sem esmorecimento obrigou as autoridades a reconhecer a importância de uma escola de formação de bailarinos com uma história única no Brasil.

Desde ontem, a presença de Lydia está devidamente registrada para que as novas gerações a reverenciem a cada aula, a cada dia, a cada ensaio.

A resposta dos sensíveis

setembro 22, 2017

Eliana Caminada
22 de setembro de 2015 às 18:51 ·

A resposta dos sensíveis
Um absurdo a declaração escrita pela senhora **** Lima na revista Dança & cia. sobre dança x educação física e antigos profissionais artistas. Sim, porque admitindo a colocação dela, figuras como Maria Olenewa, Vaslav Veltchek, Eugênia Feodorova, Tatiana Leskova, Nina Verchinina, Maryla Gremo – será que ela já ouviu falar de algum desses nomes paradigmáticos? – cabem dentro de suas acusações.
Ora, onde eles estavam, onde estávamos todos enquanto a educação física se organizava? Dançando, é claro. Somos anárquicos, dionisíacos; somos artistas, temos dificuldade de tratar de Leis, regulamentações, burocracia, etc. Diante de um espetáculo, nos mobilizamos totalmente em função dele: uns tratam de viabilizar financeiramente o espetáculo, outros estão ensaiando, terceiros estão cuidando da produção, etc. Os que nada podem mas amam a arte estão na platéia. Os insensíveis estão vendo atletas em artistas. Que existe professor ‘picareta’ de dança? Quem duvida disso? E na Educação Física não tem? Se médicos têm problemas c/ a categoria – e como existem erros médicos no Brasil – que a categoria se organize para não ficar desmoralizada; já imaginaram se a OAB resolvesse fiscalizar a medicina em nome de qualquer tipo de tese insensata? Dança é Arte, matéria de Ciências Humanas e Sociais, e Educação Física é da área de Ciências Biomédicas: parecer do Conselho Estadual de Cultura do Rio (Edino Krieger, Nélida Piñon, Caique Botkai, Beth Carvalho, José Lewgoi, Arthur Moreira Lima e outros). Senhora **** Lima, mais respeito ao se referir publicamente a profissionais pioneiros, brilhantes, ícones da dança no Brasil, como é o caso dos que lideravam a dança há 50 anos. Se sua formação foi realizada com professores que jamais lhe ensinaram nada, se foi obrigada a comer uma banana (por que banana?) ao longo de um dia de ensaios, se só conheceu pessoas antiéticas, lamentamos muito; procurasse melhor orientação. Foi o que fizeram meus pais quando manifestei vontade de estudar ballet. Declarações desse tipo são muito graves: merecem processo ou suscitam deboche.
Eliana Caminada

Sobre Shéhèrazade e Mikhail Fokine

setembro 22, 2017


Eliana Caminada
20 de setembro de 2016 às 19:06 ·
Hoje fui assistir a um ensaio de palco de Shéhérazade e fiquei refletindo sobre a imensa dificuldade de dançar uma obra tão paradigmática dentro da história do ballet do século XX. Um ballet estilístico em que a grande dificuldade representa, não o treinamento técnico do bailarino de hoje, mas, ao contrário, expressar o que consideram simples e fácil.
O virtuosismo do século XXI não serve para nada diante da necessidade da sensualidade, da sinuosidade, dos cambrés e épaulements de cada elemento em cena. Esse é o momento de comer o remontador com os olhos e os ouvidos, de forma a conseguir expressar através do corpo uma época de busca, não apenas de passos novos, mas de um novo espírito, de movimentos inusuais, novos e complicados sim, para nós. É necessário tentar conhecer um momento extraordinário, em que o ballet rompia com seus modelos já consagrados e esgotados para sobreviver como uma arte maior, indicadora de novos caminhos, de novas concepções de criações e espetáculos.
Mikhail Fokine não foi tão somente um novo coreógrafo surgido do seio da grande arte russa da dança, com sólida formação acadêmica e bagagem artística. Ele foi um revolucionário, um farol que percebeu que um novo tempo havia chegado. Suas ideias sobre a dança (“… o ballet deve ter uma unidade completa de expressão, uma unidade composta da união harmoniosa dos três elementos – música, pintura e a arte plástica … a dança deve ser interpretativa, deve explicar o espírito e jamais degenerar em meros movimentos de ginástica …”) precederam até mesmo a ida de Isadora Duncan à Rússia, embora seja indiscutível que a liberdade de dança de Isadora lhe provocou imensa perplexidade.
As ideias de Fokine se realizariam plenamente nos Ballets Russes de Sergei Diaghilev. Com Diaghilev el entrou em contato com a intelectualidade francesa e essa erudição estaria sempre presente em sua obra.
Vou me permitir, aqui, reproduzir os cinco pontos de Fokine publicou em Londres em 1914 e que o tornaram o “pai da moderna concepção de espetáculos cênicos”. São eles:
1. Conceber, para cada coreografia, movimentos que correspondam ao tema, período e música ao invés de apenas formular combinações de passos tradicionais.
2. Gestos e mímicas só têm sentido no ballet moderno, quando a serviço da ação dramática.
3. O corpo do bailarino deve ter expressividade da cabeça aos pés, sem pontos considerados mortos. No ballet moderno, os gestos de dança clássica somente se justificam quando o estilo o requer.
4. O conjunto não é meramente ornamental; a expressão corporal é necessária tanto nos solistas quanto no conjunto quanto na totalidade dos participantes que se movimentam em cada cena.
5. A dança deve permanecer em condição de igualdade com os demais fatores do ballet. Estes não devem mais se impor à dança nem deve a dança ser independente. Música de “ballet” não mais existe mas simplesmente música, boa música. Eliminem-se “tutus”, sapatilhas e malhas cor de rosa sem sentido cênico ligado à obra. Tudo deve ser inventado a cada instante, ainda que as bases da invenção estejam estabelecidas numa tradição centenária.

ESCOLA ESTADUAL DE DANÇAS MARIA OLENEWA – 90 ANOS

julho 6, 2017

ESCOLA ESTADUAL DE DANÇAS MARIA OLENEWA – 90 ANOS DE TRADIÇÃO
Sob o impacto de justificada emoção a Escola Estadual de Danças Maria Olenewa, antiga Escola de Danças Clássicas do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, completou 90 anos. É a mais antiga instituição oficial do país e razão suficiente para afirmarmos que a alma brasileira do ballet clássico em nosso país é carioca.
Olenewa, mais do que bailarina e pedagoga, foi uma visionária capaz de planejar o presente e o futuro e concretizá-lo. Ao criar a Escola de Danças tinha consciência de que estava lançando a pedra fundamental do desenvolvimento do ballet no Brasil. Seu ideal de criar o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e de preparar bailarinos para integrá-lo foi plenamente alcançado. Hoje, superando o desprezo e o desconhecimento de nossas autoridades sobre ballet, oferecemos ao mundo todo bailarinos brilhantes e reconhecidos. A facilidade para dançar inerente ao povo brasileiro aliada à mistura de raças que o faz entender e conferir um sotaque singular a tudo que lhe é apresentado, transformou o ideal de Olenewa numa indiscutível realidade. Em 1931, a Escola foi oficializada e a companhia dela oriunda em 1936. Seu atual diretor Hélio Bejani, coreógrafo e bailarino da companhia, ficou feliz e realizado ao ver o Theatro superlotado, consagrando a homenagem prestada a bailarinos do Ballet do Municipal de várias gerações, formados pela Escola, e a apresentação dos alunos. Esperamos que tal demonstração de amor e respeito comova o secretário de Cultura, que estava presente. Afinal, naquele palco estavam artistas passando por sérias dificuldades, sem receber seus salários desde o mês de abril.
Nada disso, contudo, maculou a alegria de dividir aquele palco com tantos companheiros queridos, de ouvir Eleonora Oliosi falar sobre a importância da Escola na vida de todos nós que passamos por ela. Foi sim, emocionante. Deu-nos a sensação de dever cumprido, de trajetória percorrida que pode servir de modelo para os jovens que estão começando a construir sua carreira.
Encerrar o espetáculo – dançado com correção pelos alunos – com a remontagem bonita e honesta de “Les Sylphides” foi muito significativo. Esta obra-prima, com música de Chopin, coreografada por Fokine é marcante para nossa história. Constou do primeiro espetáculo levado à cena pela Escola de Danças e do primeiro espetáculo do Corpo de Baile já reconhecido como companhia oficial.
“… considerando a luta dos artistas, sobretudo do bailarino clássico, para sobreviver com dignidade e mais, para ter o direito de optar pelo ballet num país onde a cultura erudita é tão desprestigiada e o ballet não consta de nenhum discurso de “autoridades” da área cultural, firma-se com mais vigor e entusiasmo minha admiração pela figura de Olenewa. Não é difícil imaginar a luta para aqui iniciar uma atividade artística, encontrar vocações que a tudo superassem, das dificuldades materiais ao preconceito cruel, convencer políticos pouco esclarecidos da necessidade de uma atividade permanente e oficial numa instituição do governo com a finalidade de abrigar uma arte de caráter tão universal e sem barreiras, mas tão marginalizada quanto a dança, especialmente o ballet, lançar as bases de um projeto que funcionasse a curto, médio e longo prazos, enfrentar diletantismo, amadorismo e apadrinhamentos, e viver, ela própria, Olenewa, com dificuldades financeiras. Tal deve ter sido a sua batalha e, quando se olha para o presente acredita-se que, apesar de tudo, valeu a pena…”

A ARTE NÃO MORRE

maio 11, 2017

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado em 14 de julho de 1909 atendendo aos anseios de uma sociedade eclética e culta, acostumada, desde a chegada da Corte portuguesa, sobretudo, às grandes temporadas líricas. Nasceu, pois, para assegurar a continuidade de uma produção artística sem a qual uma Nação não pode se considerar plenamente desenvolvida.
A arquitetura, a beleza do Municipal, impressiona até a visitantes e artistas estrangeiros, acostumados a frequentar os grandes teatros do mundo. Mas esse prédio abriga também bens imateriais que lhe conferem vida de rara intensidade e o torna o único com esse perfil no país, um dos raros da América e mesmo do mundo.
Esses bens constituem-se no acervo humano do Theatro, representados pela sua Orquestra, Coro, Corpo de Baile, técnicos especializados e administradores.
Cumpre-lhes – aos artistas e funcionários -, tendo em vista a dimensão nacional inerente a sua produção artística, de caráter universal, contribuir para o desenvolvimento sócio-cultural do povo brasileiro, conscientes de que a Arte, expressão do ser humano profundamente democrática nas suas diversas manifestações, é salvadora, transformadora e inclusiva.
A frase “O prédio é o Corpo do Theatro Municipal, os Corpos Artísticos são sua alma” define muito bem a importância dos seus bens materiais e imateriais.
Em 2007, o povo brasileiro elegeu esse teatro como uma das Sete Maravilhas do Brasil. Elegeu não apenas o prédio, até porque, um teatro sem vida intensa e própria não se justifica. O que o povo brasileiro consagrou, objeto do seu amor e do seu orgulho, foi o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, juntamente com a Arte que, no nosso país, só é produzida nele.
Lembremo-nos sempre disso, não apenas agora, aqui, mas como parte integrante de nossas vidas, e disponibilizemos uma parcela de nosso tempo, de nossa solidariedade, para dignificá-lo e para lutar por sua sobrevivência como o mais importante templo das artes eruditas do Brasil.
Eliana Caminada

Novo presidente do Theatro Municipal do Rio: a palavra de Cora Rónai.

fevereiro 25, 2017

fachadatm2-23trat
Querida Cora, você não me conhece, mas me representa em quase tudo. Portentoso esse artigo que você escreveu ao Maestro Ripper na página dele mesmo. Entrei ali para postar minha solidariedade e lamentar tamanha idiotice, mas, diante de você, nada tenho a acrescentar. Apenas lamentar, também, que nenhum artista do Municipal tenha se manifestado em relação a demissão do Maestro Ripper. Como sempre, eles se omitem, seja por um papel, seja pelo salário em dia. Sei, ele sabe, você também, Cora, que estamos em enormes dificuldades, mas não foi o mérito dos artistas que os premiou com salário em dia, apenas conchavos políticos sujos, imundos. Por isso mesmo, não entendo a omissão, o medo de desagradar, a falta de reconhecimento. Cora, através de você quero dizer: Maestro, muito obrigada por sua gestão extraordinária, por sua capacidade, competência e honestidade. E, se em algum momento houver algum movimento de protesto contra sua saída, conte comigo em todos os níveis. Um abraço a ambos.

COM AUTORIZAÇÃO DE CORA RÓNAI
Cora Ronai
23 de fevereiro às 00:07 · Rio de Janeiro ·
É tanta coisa errada acontecendo ao mesmo tempo nessa cidade, nesse estado, nesse país, nesse mundo — e eu só não falo de outros mundos e do sistema solar e da galáxia e das outras galáxias todas porque me faltam elementos, mas tenho certeza de que há alguma coisa fora da ordem por lá também — que fica difícil escolher a pauta da indignação.

Não dá para falar de tudo o que me deixa indignada ultimamente porque tenho uma vida fora da indignação, uma vida que demanda certa atenção — almoçar, jantar, pagar contas, tomar banho, trocar lâmpadas.

Mas hoje estou revoltada com a saída do João Guilherme Ripper da direção do Theatro Municipal. Ripper é compositor e maestro, veio de uma administração muito bem sucedida na Sala Cecília Meireles e, junto com André Cardoso, estava fazendo milagres no Municipal, onde conseguiu produzir uma boa temporada de espetáculos em meio ao mais absoluto caos financeiro.

Tão absurda quanto a sua saída é o alegado motivo para a sua demissão: “popularizar” o TM.

O Theatro Muncipal não precisa ser “popularizado”.

O Theatro Municipal precisa, antes de mais nada, ser viabilizado.

O Theatro Municipal precisa de verbas, precisa de respeito.

Não pode ser mercadoria de troca política, um cacho de carguinhos no toma lá dá cá entre o governo e câmara.

Ele não é um “centro cultural” daqueles que os políticos inauguram às dúzias em qualquer garagem para dizer que estão fazendo alguma coisa pela cultura. Ele é uma máquina rara e preciosa, o coração tradicional da música clássica do Rio, a casa onde funcionam uma orquestra, um coro e um corpo de baile, grupos dedicados a um tipo muito específico de arte.

Precisa ser dirigido por quem conheça a área, por quem tenha experiência em tocar a complexa administração de um teatro assim, com todos os seus problemas técnicos, artísticos e humanos.

Um teatro como o Municipal se populariza, de verdade, com temporadas a preços acessíveis, e com a ampla divulgação do seu trabalho — e não com “investimento em música popular”.

A contratação de Milton Gonçalves, figura indiscutivelmente querida e carismática, não é “um tapa na cara da música clássica”, como já ouvi essa tarde. É um soco no meio da fuça, um jab demolidor que vai acabar de vez com um organismo frágil que se mantém a duras penas, ao custo do amor e da abnegação de equipes que vem trabalhando sem recursos e, nos últimos tempos, até sem salários.

Milton Gonçalves, como diz orgulhosamente o populista que o pôs no cargo, “é o primeiro presidente negro do Theatro Municipal”.

É importante isso, e há mérito nessa escolha.

Mas o problema é que o Municipal não se dirige com a cor da pele. O Municipal não precisa de um presidente negro, amarelo, cinza ou rosa choque. O Municipal precisa de um presidente — de qualquer cor, credo ou orientação sexual — que realmente viva e respire música clássica, e que tenha experiência na gestão de grandes teatros, ou a sua já precária estrutura desmorona de vez.

O resto é demagogia, e política da mais rasteira.